Durante toda a minha vida acreditei ser impossível mandar no coração. Pra mim, gostar ou não gostar de alguém nunca tinha sido questão de escolha, mas de "destino"; se apaixonar pela pessoa errada era um risco iminente e, pela pessoa certa, uma sorte incrível. Ser capaz de decidir se vale ou não a pena cultivar um sentimento me parecia coisa de gente fria e determinar o melhor momento pra se entregar a uma nova relação coisa de gente insensível.
Do meu ponto de vista, uma emoção não poderia ser racionalizada.
Não sei se foi o tempo, se foram as desilusões ou se foi só a realidade mesmo que me fez enxergar que eu estava errada. De um tempo pra cá me descobri capaz de decidir, sim, se quero ou não que um sentimento cresça dentro de mim, se alguém vai se aproximar mais ou menos. Hoje me sinto apta a determinar até que ponto eu estou disposta a carregar a bagagem de alguém e o quanto uma determinada pessoa é capaz de carregar a minha.
Ter adquirido esse controle me fez sentir bem, me fez sentir segura. Quando me descobri capaz de dizer pra mim mesma que a saudade passa, que o tempo acalma e que a ansiedade não domina, fui me tornando mais tranquila, mais leve, mais forte.
Passei a ver que a razão pode, sim, sobrepôr uma emoção.
O lado triste dessa nova habilidade, entretanto, aparece quando sou obrigada a frear emoções e sentimentos que eu gostaria de poder deixar correrem soltos; quando é o outro quem mostra que não pretende permitir que os seus próprios sentidos aflorem e, em defesa, sou forçada a controlar também os meus.
Quando a razão precisa se sobrepôr à uma emoção que ela mesma gostaria de permitir, toda aquela segurança, tranquilidade e leveza se transformam num sentimento amargo de auto-sabotagem, e nessas horas eu sinto saudade do tempo em que eu ainda era livre pra só me emocionar, sem ter que me preocupar em racionalizar.
8 comentários:
Uau, como foi que você conseguiu esse controle??? Eu estou looonge dele...
Ah, belíssima a foto da varanda de Niemeyer! Deu saudade...
Oi, Bel!
Seja bem vinda!
Esse controle talvez tenha sido o jeito que eu fui criando de me defender de mim mesma. Minha natureza é absurdamente passional e eu sempre sofri loucamente com as minhas relações, até o ponto em que me dei conta de que as dores sempre passavam e eu sempre sobrevivia. Desde então tenho procurado ensinar meu coração a esperar, já que em todas as situações anteriores bastou um pouco de tempo pra que tudo voltasse ao normal.
Não tem sido fácil, é verdade, e eu não me arrisco a afirmar que vou conseguir pensar e sentir sempre assim, mas a tentativa, até
agora, meparece estar sendo válida.
Apareça sempre.
Um beijo
Sam
Tive que ler umas 3 vezes este post para decidir se concordava ou não com voce, Sa! E concordo sim.
Não só podemos como devemos deixar a razão falar mais alto em algumas situações - apesar de ser difícil manter esse controle quando a emoção aponta para um caminho oposto.
Agora vou ler outras 3 vezes para me convencer de que essa liberdade de escolha (baseada na razão) no fundo é uma coisa boa... :)
Pois é, Cons. Como eu escrevi antes, ainda não sei se agir/pensar assim é bom ou ruim, mas tenho certeza de que em alguns momentos é necessário. O lance é ir acertando, errando, aprendendo e vivendo.
Beijo
O tempo é o maior dos mestres , uma pena que ele mate os seus discípulos...:)
Beijos e Beijos
Rafa
hmmmm, sam, bacana isso tudo, mas sinceramente não rola teorizar. Hj está assim, amanhã estará de outro jeito. O equilíbrio talvez seja uma boa solução, mas certamente, a melhor é qdo estamos felizes :)
Mas, acredito que foi longe, quando pensou e escreveu isso aki. parabéns :)
Caramba, não pensei que ia tocar tanta gente com esse post.
=]
Rafa, obrigada por voltar! Só não concordo com o lance do tempo matar seus discípulos; ao contrário, acredito que ele os ensina e fortalece.
Fábio, meu amigo mais feliz! Você tem razão, sim, estar feliz soluciona realmente todos os problemas.
Beijo grande pros dois
Nossa tô adorando este botequim virtual :-)
Eu particularmente acho que qualquer sensatez é boa quando falamos de sentimentos.
Ser puramente racional ou puramente emotiva não é legal. Como dizem os budistas o caminho do meio é sempre melhor :-)
Só acho que não podemos fugir da nossa natureza. É como entrar no BBB. Na primeira semana a gente até disfarça bem. Mas depois as máscaras meio que caem por terra. Acho que isto acontece quando falamos da nossa essência também. Se já temos a tendência a sermos emotivos podemos até tentar ser mais racionais. Mas quando perdemos o controle a tendência e sermos emotivos até o último fio de cabelo. Isto também vale para a racionalidade. Se a nossa natureza é racionalizar tudo, podemos até ser emotivos por um tempo. Mas na primeira oportunidade voltaremos a nossa origem :-)
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