Hoje eu estava revendo meu curriculo, atualizando com uns cursos que fiz há pouco tempo e cheguei à uma conclusão, no mínimo, estranha: minha vida profissional é uma zona!!!
Já fiz de tudo um pouco... fui gerente de restaurante, secretária particular, vendedora de loja, analista de crédito corporativo, chefe de DP, aspone, trainee das mais diversas áreas... e hoje, aos 32 anos, quando já era pra estar prestes à iniciar a fase estável da carreira, estou estagiando em dois lugares absolutamente diferentes um do outro, ganhando praticamente nada de grana, e tentando escrever uma monografia de graduação que está me levando à loucura!
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Mas isso nada mais é do que o reflexo das minhas próprias escolhas e das mudanças radicais que a minha vida sofreu nos últimos 15 anos, ou seja, desde que eu saí do colegial.
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Sempre fui uma aluna aplicada. Gosto de estudar, meu ego agradece pelas notas altas e me faz bem ser capaz de conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Só que, pra isso, eu precisei escolher ser uma nerd, dessas que trocam baladas por uma noite atracada num bom livro ou sentada por horas em frente ao computador.
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Outra escolha que trouxe consequências complicadas foi a da minha carreira acadêmica. Quando estava prestes a terminar o 2º grau, fiz um teste vocacional no colégio e, surpresa!!!, eu tinha aptidão pra uma lista de 16 profissões, que iam de prendas do lar à fisica quântica. Isso me deixou mais perdida que cego em tiroteio e, pra piorar um pouco, perdi meu pai em pleno vestibular. Resumo da ópera: prestei pra Administração (a faculdade de quem não sabe o que quer!!!) e iniciei um curso que eu não tinha a menor idéia de onde ia dar...
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Digo com 100% de certeza que a faculdade de Administração pode te dar uma vaga noção de um monte de coisas, mas você sai dali sem saber efetivamente nada. A única coisa que eu realmente ganhei com a graduação foi a minha paixão pelo Direito. Durante a formação, ainda nos primeiros semestres, cursei três ou quatro cadeiras da área jurídica, que são passadas sem muita profundidade - como todo o resto - mas que te dão uma valiosa dica sobre o quanto essa profissão pode ser gratificante. Foi amor à primeira vista!
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E foi ali, por volta do segundo ano de faculdade, que eu descobri que estava no lugar errado, mas nem por isso deixei de fazer uma escolha errada: ao invés de abandonar o curso de Administração e me dedicar ao Direito (bastava um pedido de transferência, já que ambos os cursos são considerados Ciências Sociais!!!), eu achei que, se eu já estava na metade do caminho, não era inteligente começar do zero novamente.
Mas eu escolhi muito mal. Lá, com 20 anos, eu tinha um pique gigante e um apoio familiar com o qual eu não posso mais contar, tudo muito diferente do que acontece hoje...
Por fim, terminei a faculdade, saí da casa dos meus pais, caí no mercado, e me obriguei a congelar a minha vocação por tempo indeterminado.
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Muita coisa aconteceu dali em diante, até que, por causa da perda de um emprego e, também, pelo fim de um relacionamento complicado, eu adoeci. Minha família inteira se mobilizou, já que eu realmente não estava nada bem e, de uma semana pra outra, eu me vi retrocedendo em cinco anos da minha vida: doente, sem trabalho, sem dinheiro, de volta à casa dos meus pais, morando numa cidade que eu detestava... O único pensamento que me vinha à mente era: LIFE SUCKS!!!
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Mas a tal cidade que eu detestava tinha uma grande qualidade: estava se transformando num pólo universitário e, pra atrair os estudantes, as instituições ofereciam descontos incríveis nas mensalidades.
Foi então que eu decidi que, pra me curar, nada melhor do que fazer uma das coisas que eu mais gosto: ESTUDAR! É isso aí... aos 26 anos eu voltei pra faculdade e, dessa vez, pra fazer o que eu espero poder fazer pro resto da vida: estudar o Direito!
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Essa não foi uma decisão fácil de ser encarada, já que eu precisei voltar a trabalhar e as 24 horas do dia muitas vezes são poucas pra tudo o que eu preciso fazer. Mas vale cada minuto de sono sacrifícado.
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Muita coisa aconteceu desde então. Bons trabalhos sugiram e se foram, conheci pessoas incríveis, com as quais a conversa flui como nunca antes e eu passei a encara o mundo de um maneira completamente diferente. A sensação de estar fazendo alguma coisa pela qual se é apaixonado não tem preço e talvez seja justamente por isso que hoje eu me disponha a não estar ainda ganhando tanto dinheiro quanto gostaria mas, em compensação, estar inserida num contexto que me faz acordar com disposição toda manhã, ainda que só tenha dormido poucas horas, e acreditar que amanhã vai ser muito melhor que hoje, já que eu estou me preparando pra ser exatamente a pessoa que eu escolhi ser.
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E que venha a próxima escolha...