13 março 2006

Escolhas

Hoje eu estava revendo meu curriculo, atualizando com uns cursos que fiz há pouco tempo e cheguei à uma conclusão, no mínimo, estranha: minha vida profissional é uma zona!!!
Já fiz de tudo um pouco... fui gerente de restaurante, secretária particular, vendedora de loja, analista de crédito corporativo, chefe de DP, aspone, trainee das mais diversas áreas... e hoje, aos 32 anos, quando já era pra estar prestes à iniciar a fase estável da carreira, estou estagiando em dois lugares absolutamente diferentes um do outro, ganhando praticamente nada de grana, e tentando escrever uma monografia de graduação que está me levando à loucura!
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Mas isso nada mais é do que o reflexo das minhas próprias escolhas e das mudanças radicais que a minha vida sofreu nos últimos 15 anos, ou seja, desde que eu saí do colegial.
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Sempre fui uma aluna aplicada. Gosto de estudar, meu ego agradece pelas notas altas e me faz bem ser capaz de conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Só que, pra isso, eu precisei escolher ser uma nerd, dessas que trocam baladas por uma noite atracada num bom livro ou sentada por horas em frente ao computador.
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Outra escolha que trouxe consequências complicadas foi a da minha carreira acadêmica. Quando estava prestes a terminar o 2º grau, fiz um teste vocacional no colégio e, surpresa!!!, eu tinha aptidão pra uma lista de 16 profissões, que iam de prendas do lar à fisica quântica. Isso me deixou mais perdida que cego em tiroteio e, pra piorar um pouco, perdi meu pai em pleno vestibular. Resumo da ópera: prestei pra Administração (a faculdade de quem não sabe o que quer!!!) e iniciei um curso que eu não tinha a menor idéia de onde ia dar...
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Digo com 100% de certeza que a faculdade de Administração pode te dar uma vaga noção de um monte de coisas, mas você sai dali sem saber efetivamente nada. A única coisa que eu realmente ganhei com a graduação foi a minha paixão pelo Direito. Durante a formação, ainda nos primeiros semestres, cursei três ou quatro cadeiras da área jurídica, que são passadas sem muita profundidade - como todo o resto - mas que te dão uma valiosa dica sobre o quanto essa profissão pode ser gratificante. Foi amor à primeira vista!
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E foi ali, por volta do segundo ano de faculdade, que eu descobri que estava no lugar errado, mas nem por isso deixei de fazer uma escolha errada: ao invés de abandonar o curso de Administração e me dedicar ao Direito (bastava um pedido de transferência, já que ambos os cursos são considerados Ciências Sociais!!!), eu achei que, se eu já estava na metade do caminho, não era inteligente começar do zero novamente.
Mas eu escolhi muito mal. Lá, com 20 anos, eu tinha um pique gigante e um apoio familiar com o qual eu não posso mais contar, tudo muito diferente do que acontece hoje...
Por fim, terminei a faculdade, saí da casa dos meus pais, caí no mercado, e me obriguei a congelar a minha vocação por tempo indeterminado.
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Muita coisa aconteceu dali em diante, até que, por causa da perda de um emprego e, também, pelo fim de um relacionamento complicado, eu adoeci. Minha família inteira se mobilizou, já que eu realmente não estava nada bem e, de uma semana pra outra, eu me vi retrocedendo em cinco anos da minha vida: doente, sem trabalho, sem dinheiro, de volta à casa dos meus pais, morando numa cidade que eu detestava... O único pensamento que me vinha à mente era: LIFE SUCKS!!!
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Mas a tal cidade que eu detestava tinha uma grande qualidade: estava se transformando num pólo universitário e, pra atrair os estudantes, as instituições ofereciam descontos incríveis nas mensalidades.
Foi então que eu decidi que, pra me curar, nada melhor do que fazer uma das coisas que eu mais gosto: ESTUDAR! É isso aí... aos 26 anos eu voltei pra faculdade e, dessa vez, pra fazer o que eu espero poder fazer pro resto da vida: estudar o Direito!
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Essa não foi uma decisão fácil de ser encarada, já que eu precisei voltar a trabalhar e as 24 horas do dia muitas vezes são poucas pra tudo o que eu preciso fazer. Mas vale cada minuto de sono sacrifícado.
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Muita coisa aconteceu desde então. Bons trabalhos sugiram e se foram, conheci pessoas incríveis, com as quais a conversa flui como nunca antes e eu passei a encara o mundo de um maneira completamente diferente. A sensação de estar fazendo alguma coisa pela qual se é apaixonado não tem preço e talvez seja justamente por isso que hoje eu me disponha a não estar ainda ganhando tanto dinheiro quanto gostaria mas, em compensação, estar inserida num contexto que me faz acordar com disposição toda manhã, ainda que só tenha dormido poucas horas, e acreditar que amanhã vai ser muito melhor que hoje, já que eu estou me preparando pra ser exatamente a pessoa que eu escolhi ser.
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E que venha a próxima escolha...

08 março 2006

Desabafo

Antes de qualquer coisa, quero dizer que a discussão do post anterior está muito boa e não é porque um post novo está entrando que ela deve acabar, ok?
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O Dia Internacional da Mulher inspira grandes debates, muitos inclusive pregando ser ele a caracterização maior do preconceito que as mulheres tanto gostariam que não existisse. Só que, muitas vezes, as próprias mulheres não sabem ao certo o que querem da vida, o que esperam de seus parceiros, de sua profissão, de seus filhos, qual o papel que realmente gostariam de interpretar. E num desses momentos de crise, uma desconhecida escreveu um DESABAFO DA MULHER MODERNA, que eu transcrevo aqui:
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São 6h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.
Estou tão acabada, não queria ter que trabalhar hoje.
Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até!
Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles.
Se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.
Aquário? Olhando os peixinhos nadarem.
Espaço? Fazendo alongamento.
Leite condensado? Brigadeiro.
Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.
Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos da mulher e por que ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.
Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária...
Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço".
QUE ESPAÇO, MINHA FILHA!!??
Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo aos seus pés.
Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?
Agora eles estão aí todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz!
Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim!
E, PIOR, nos largando no calabouço da solteirice aguda. Antigamente, os casamentos duravam para sempre.
Por que, me digam por que, um sexo que tinha tudo do bom e do melhor,que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?
Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso...
Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas. Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especialidades.
Viramos "super-mulheres", mas continuamos a ganhar menos do que eles...
Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
CHEGA!!!
Eu quero alguém que abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela...
Ai, meu Deus, são 7h30, tenho que levantar!
E tem mais... que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?", pois eu descobri que é muito melhor servir.
Ou pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério!
Estou abdicando do meu posto de mulher moderna.
Troco pelo de Amélia.
Alguém mais se habilita?
Antes eu sonhava, agora nem durmo mais...
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Importante deixar bem claro que isso é um desabafo e que, justamente por sermos mulheres, nos reservamos o direito de pensar num momento assim e, no seguinte, de forma diametralmente diversa!
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PARABÉNS PRA NÓS!!!

06 março 2006

Ideais

Há uns anos atrás eu fui ao bar com uma amiga da faculdade e o dono do lugar, meu amigo de longa data, se encantou pela moça. Eles não trocaram mais do que três palavras - dentre elas um oi e um tchau - mas, ainda assim, ele definiu que aquela era a mulher com quem ele queria se casar.
E casou mesmo. Depois de cerca de três ou quatro anos cercando a menina, fazendo visitas a ela no trabalho, tentando incansavelmente levá-la pra jantar ou pra qualquer outra coisa que ela fazer, finalmente ele a venceu - talvez pelo cansaço - e com menos de seis meses de namoro eles se casaram numa cerimônia simples, sem festa, e se mudaram pra outro país, na esperança de que lá conseguiriam realmente se conhecer, além de arrecadar grana suficiente pra comprar um imóvel por aqui.
A vida lá fora foi mais difícil do que eles imaginavam, e logo o casal estava de volta, mas com o casamento já em crise. Bastaram poucos meses no Brasil pra que cada um tomasse um rumo diferente, ela inclusive se mudando pra outra cidade que não aquela onde ele morava.
No dia em que foi marcada a audiência pra assinatura do divórcio, fui almoçar com o meu amigo, que estava muito triste com toda a situação. E não pude me furtar à pergunta: o que deu errado? Você tinha tanta certeza de que ela era a mulher da sua vida, aquela que você idealizou, a perfeita...
E foi esse, justamente, o erro! Ele a idealizou. E se esqueceu de prever que ela talvez não fosse, na vida real, a personagem que ele havia criado.
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Resolvi escrever sobre isso não só em razão da minha própria natureza, que é ultra fantasiosa e muitas vezes me prega peças, mas também porque tenho visto muita gente em torno de mim que tembém cria personagens a partir de seus parceiros - ou daquelas pessoas que gostariam que um dia o fossem - e que, ao se deparar com quem essas pessoas realmente são, ou seja, ao conhecer o intérprete da personagem, na maior parte das vezes sofre uma decepção horrível. As chances de que as fantasias que nós criamos em torno do próximo correspondam à realidade são mínimas, infelizmente.
Mas o pior ainda está por vir. Quando idealizamos alguém, o fazemos por inteiro, nos achando capazer, até, de prever suas atitudes, sentido e sentimentos. E quando o parceiro não age ou reage de acordo com essa previsão, nós o cobramos por isso, com frases feitas do tipo "Jamais imaginei que você faria algo assim...". E é aí que a gente descobre que o ideal não foi atingido, que a expectativa não foi correspondida e que o que de verdade queremos não é nada daquilo.
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Ok. Problema exposto. Mas como tentar evitá-lo? Como fugir dessa armadilha que armamos pra nós mesmos? Estou mais do que aberta ao debate! :)
Andei pensando nisso e cada vez mais acho que devemos tentar nos distanciar do ideal em prol de uma maior aproximação com o que é real. Acho que temos que tentar conhecer melhor as pessoas com quem nos relacionamos e criar em relação a elas expectativas que elas sejam capazes de atingir, e não sonhos. Até porque nada é tão prazeiroso quanto acertar na mosca o presente que a pessoa queria ganhar, usar o perfume que ela gosta de sentir, bastar um olhar pra que um saiba exatamente quais as intenções do outro, saber o que vai surpreender e dar brilho aos olhos daquele que é o ser mais importante pra você naquele momento... E esses acertos só acontecem quando as pessoas se conhecem de verdade, nunca quando são a personificação de um sonho.