15 fevereiro 2007

Filmes

Minha cunhada, há meses, tenta convencer a mim e ao meu irmão a assistirmos esse filme. Italiano, desconhecido, feito pra televisão, não produzia em nós curiosidade suficiente mas, vencidos talvez pelo cansaço, nos rendemos.
O resultado não poderia ter sido melhor. O filme é lindo, desses água com açúcar que deixam a gente feliz no final e embalam belos sonhos. Recomendo e transcrevo um diálogo fofo entre neto, de cerca de 5 anos, e avô:
- Você anda triste, vô... O que houve?
- Ah, a felicidade bateu à minha porta e, agora, eu estou aqui sozinho, outra vez...
- Mas você a abriu?
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Outra boa pedida, pra quem tem criança ou não, é a animação Curious George.
O que levou uma turma de marmanjos a assistir ao desenho, feito pra crianças pequenas, foi a trilha sonora por conta de Jack Johnson, de quem sou fã de carteirinha. Mas a história é tão fofa, os personagens são tão divertidos e a "moral" - imprescindível nesse tipo de desenho - é tão válida que eu sugiro que todo mundo assista.
Vai valer pelo som - Upside Down é a música tema do filme - pelas imagens e pela histórinha.

A massacrante felicidade dos outros

Depois de quase um mês sem postar nada, vou colocar aqui um texto que, de certa forma, mostra parte de como eu me sinto às vezes e do que, em muitos casos, estimula esses meus recessos:

A massacrante felicidade dos outros (Martha Medeiros)

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: "Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento" . Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho. As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem mesmo dentro do nosso próprio apartamento.
(Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, Jornalista, poeta e gente fina.)

A verdade é que esse tempo off me fez acumular um monte de coisas pra postar. Isso é só o começo...