21 outubro 2008

Aïhne

Como algumas pessoas sabem, meu pai era filho de sírios e, quando a minha avó migrou pro Brasil, as famílias que vieram junto formaram uma pequena colônia, que se mantém unida até hoje.
Uma dessas famílias, os Tawil, são como se fosse a minha própria, já que se formou a partir da Tia Mariahm, que migrou e foi criada junto com a minha avó e as duas eram como irmãs. Depois de 20 anos, eu os reencontrei ontem e essa é foi uma das muitas emoções fortes que eu comentei no post anterior que São Paulo me trazia.
Encontrei meu tio Nasser, de quem eu lembrava como um homem bem grandão (claro, meu ponto de referência era a altura de um menina de 10 anos), na mesma lojinha de jóias e relógios da Rua São Bento, que tantas vezes eu visitei na infância. A diferença é que ele não é mais grandão - temos a mesma altura - mas, apesar do cabelo branquinho, o sorriso, o abraço e aquele monte de palavras em árabe agradecendo a Deus pelo reencontro continuam os mesmos.
No caminho pra casa dele, onde eu era esperada pro jantar, fomos passeando e ele foi me perguntando: "Lembra do Brahim? Ele ainda mora ali naquela casa"; "Lembra do Cher Mansur? Ele também mora ali, no mesmo lugar, desde que chegou da Síria"... e assim ele foi reavivando a minha memória. Os nomes foram fazendo os rostos me virem à mente, as reuniões quinzenais na Sociedade Árabe-Brasileira das quais participamos durante toda a minha infância pareciam ter acontecido ontem. Meu coração se aqueceu de um jeito incrível.
Mas o mais emocionante foi entrar na rua da casa da Tia Mariahm. O tio Nasser se casou com a filha dela, Tia Safira, e quando a gente virou a esquina ele me disse: "Lembra daqui?". Eu respondi que sim, porque lembrava mesmo, e então ele manda: "Eu não preciso fazer esse caminho pra chegar à minha casa, mas faço questão de passar por essa rua todos os dias pra jamais me esquecer que foi aqui que eu conheci a Minha Flor."
Pois é... 40 anos de casamento e ele ainda a chama de Minha Flor, os olhos dele brilham quando o nome dela é citado. Isso sim é história de amor.
Nem preciso falar da farra que esse jantar foi, né? Minha tia fez uma das minhas comidas preferidas, trigo com frango, e já prometeu meu prato favorito pra muito breve (o nome é impossível de ser escrito em português, mas quando eu for lá pra comer, fotografo e explico como é feito). Minha prima estava lá com as duas filhas que eu ainda não conhecia, e o filho do meu primo também. O engraçado foi que esse meu primo, que eu ainda não reencontrei, fez esse filho à sua absoluta imagem e semelhança, então conhece-lo pareceu que o Nasserzinho tinha sido congelado no tempo...
Os árabes tem muitas palavras bonitas pra designar as coisas, situações e pessoas que amam. Mas a mais linda delas é "Aïhne" (isso é o mais perto, em português, que eu consigo chegar, e a pronúncia possui um som que não existe na nossa língua). Significa "meu olhos" e é uma das formas mais carinhosas possíveis de se dirigir a alguém, tanto que só filhos, netos, maridos, esposas e parentes muito próximos e queridos tem o privilégio de serem chamados assim. Ontem, durante toda a noite, eu fui Aïhne outra vez!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

uahahahahah! Sou neta de libanês e acho a língua dificílima... meu avô nunca ensina, só algumas coisas... A comida é perfeita... minhas comidas favoritas são "chichibáraque" e "quibetrorrabe"... isso é o som dos nomes porque não sei escrever. Como uma que chama trigada mas é outra carne com trigo. Como me tornei vegetariana faz 2 anos e meio, tudo é adaptado... mas são fico sem comer...

Hmmmmmmm, eu AMO!!!!

Eu amo sampa... Ir ao morumbi e pra liberdade!!!! Nem me fale.. saudade de sampa!

Constance Farias disse...

Lindo, Sa!
Faz um bem enorme se sentir assim...