17 maio 2008

Correspondências e Responsabilidades

Pode parecer loucura, mas cheguei à conclusão de que é mil vezes melhor não ser correspondida no sentimento por alguém do que não corresponder ao sentimento que outra pessoa tem por mim. Me parece mais fácil lidar com a minha própria frustração a me sentir responsável pela de alguém.

Dias atrás, conversando com uma amiga, comentei que estava me sentindo super mal por ter saído com um cara que, agora, se dizia apaixonado por mim e por quem eu não me permiti apaixonar (o que vai ser assunto pra outro post). O pior é que a angústia dele, as expectativas que ele insistia em criar, a verdade que ele não queria ver, estavam me sufocando, e a sensação ruim de o estar magoando se somava a um princípio de repulsa que me fazia ainda mais mal, afinal, não tinha nada de errado com ele – ao contrário: foi doce, gentil, carinhoso, cuidadoso comigo.

Essa amiga, aproveitando o gancho do assunto, me perguntou como eu agiria se fosse o contrário: se eu estivesse apaixonada por alguém que não demonstrasse a mesma empolgação, ainda assim, eu insistiria em estar com essa pessoa? A minha resposta pra ela me assustou. Vou transcrever uma parte da conversa:
  • EU: “Não sei, mas acho que não. Do mesmo jeito que eu me sinto mal por não corresponder à expectativa dele, não ia gostar de sair com alguém que não correspondesse à minha. Penso sempre nisso, em como o outro está se sentindo e no quanto eu correspondo ou não às expectativas dele. O lance é que, mesmo não estando a fim, a gente parece sempre preferir que o outro tome a atitude do rompimento, pra arcar também com as responsabilidades dela. No fundo, acho que somos todos covardes e acomodados por natureza, além de teimarmos em nos contentar com pouco”.
  • AMIGA: Mas se ele não te cobra nada, é dificil saber quais são as expectativas dele realmente, ne?
  • EU: É porque ele é tão covarde e tão desprovido de auto-estima quanto eu. Essa é uma verdade que é fácil de falar, mas que é quase impossível de praticar. Se eu tivesse auto-estima de verdade não beijava um cara por quem eu não fosse apaixonada, ou não faria isso só pra passar o tempo ou suprir carência. E ele, por outro lado, não insistiria em estar com alguém que não fizesse jus àqueles sentimentos.
Depois, ao reler esse diálogo, eu entendi que só parecia pensar assim por não estar emocionalmente envolvida no processo. Eu disse essas coisas porque precisava justificar, pra mim e pra todo mundo, a frieza com que eu estava tratando o assunto, principalmente por conta de que essa não é um atitude típica de mim mesma.

O fato é que nós somos todos, sim, egoístas, egocêntricos. Quando estamos apaixonados, não importa muito o quanto o outro corresponde a esse sentimento ou não: no fundo, sempre acreditamos que é questão de tempo, de convívio, e que a atitude certa, a palavra certa, vai fazer com que o nosso objeto de desejo perceba o quanto valemos a pena. Não há que se falar em falta de auto-estima já que, ao contrário, é justamente porque confiamos de verdade nas nossas habilidades e no quanto somos capazer de fazer o outro feliz que insistimos em tentar forçá-lo a também acreditar nisso.

E quando a realidade é inversa, nos tornamos maus, cruéis. Permitimos que a aquela pessoa se mantenha por perto porque nos afaga o ego; dizemos “não” porque nos sentimos poderosos ao fazê-lo (ainda que esse “não” não seja firme o suficiente pra que o outro desista); sabemos que o outro está sendo alimentado de migalhas, mas preferimos isso à estimulá-lo a ir em frente. Temos medo de nos arrependermos no futuro e, por garantia, sujeitamos o outro a uma espera infinita por algo que, bem no fundo, sabemos que não vai acontecer, até a hora em que nos vemos envolvidos com uma terceira pessoa e aquela, que esteve ali esperando, passa a ser um entrave, um estorvo. E é só aí que abrimos mão dela.

Estarmos apaixonados, ainda que não correspondidos, nos abstem de racionalismos. Nos permite exageros, súplicas, aparente satisfação com pouco. Na contra mão, os sentimentos de outra pessoa por nós nos torna responsáveis; ter a consciência de estar com a felicidade de alguém nas mãos pode ser assustador, mas é fato do qual não podemos fugir. Ou, pelo menos, não deveríamos poder.

4 comentários:

Anônimo disse...

A pedidos vou deixar o meu comentário. Acho que a nossa geração sofre de um problema de auto-estima crônica. Não é a toa que somos chamados da geração "prozac".
Atire a primeira pedra quem nunca ficou ou manteve alguém por carência.
A vantagem é que o tempo passa. As pessoas passam. Os sentimentos também passam.
E algumas coisas amadurecem e mudam :-)

Para mim o que vale é o bom senso. Acho que só deveriamos entrar ou nos retirar de relações que façam a gente feliz!
E o conceito de felicidade é diferente para cada um de nós.
Acho que este é o um dos poucos compromissos que deveriamos ter com nós mesmos.
tentar ser felizes :-)

bjs,

Anônimo disse...

Ah e para reforçar o que eu disse olha que bonito este poema do Mario Quintana:

A idade de ser feliz (Mario Quintana)

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos, e ter energia bastante para realizá-los, a despeito de todas as dificuldades. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente, e desfrutar tudo com toda intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se presente e tem a duração do instante que passa.

Constance Farias disse...

Sá, na minha opinião, somos responsáveis pelo sentimento dos outros até certo ponto. Quando dizemos "não", mesmo que esse "não" soe fraco e inconsistente, mesmo que não seja propriamente dito com todas as letras, a outra pessoa sente que não está sendo correspondida. A partir daí a responsabilidade passa a ser dela.

Ninguém é obrigado a corresponder as expectativas de ninguém. Quando acontece e é recíproco, ótimo. Mas quando não é, paciencia. Da mesma forma que não adianta insistir e tentar convencer o outro de que somos a sua "soul mate" (por mais tentadora que esta idéia seje as vezes), também não podemos nos martirizar e achar que estamos sendo cruéis por frustrar alguém.

Quem se contenta com migalhas, receberá sempre migalhas.

SS disse...

É, meninas, vocês duas têm razão.
Eu escrevi esse post num momento de "fúria", tava zangada porque eu estava sendo chamada à uma responsabilidade que realmente talvez não seja minha, mas que naquela hora parecia ser.
O meu instinto sempre me faz tentar fazer o que for possível pra deixar os outros felizes, ainda que pra isso eu precise abrir mão de um tantinho da minha própria felicidade, mas é necessário impor limites até mesmo pra isso, e acho que foi o que eu acabei fazendo.

Obrigada, às duas, por estarem perto (ainda que não fisicamente), por dividirem o momento comigo.

Beijos